sábado, 21 de setembro de 2013

Artigo de Opinião



O Papa Francisco e os conservadores desconcertados


Marcos Luiz Garcia


Desconcertado, eu também, com notícias recentemente publicadas na mídia e preocupado com seu efeito desestimulante sobre os católicos conservadores, busquei uma poltrona para espairecer. Peguei uma coleção de escritos de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e me deparei com o profético artigo escrito na Folha de S. Paulo em 1° de novembro de 1970. Incrível como me esclareceu.  
Tenho presente que toda metáfora claudica, mas isso não impede o recurso didático a ela.

Bastou atualizar os fatos, que o discernimento se mostrou inteiramente atual. Para que possam avaliar bem, as palavras dele eu as colocarei em itálico, as adaptações são minhas.

“Entre lobos e ovelhas: novo estilo de relações”

“Quanto mais caminham os fatos, mais desconcertam um setor — que creio [nada desprezível] — da opinião católica.
“Tal desconcerto, é preciso que se diga, não decorre apenas da ação ou das omissões de tantas autoridades pequenas, médias e altas da sagrada hierarquia. Ele sobe ainda mais.
“Oxalá alguém me convencesse de que são falsos os fatos meridianamente claros a meu ver, em que me baseio para fazer esta afirmação.”
Refiro-me à carta enviada pelo Papa Francisco aos muçulmanos parabenizando-os pelo término do Ramadan, que desconcertou não só a mim, mas católicos do mundo inteiro.
No dia 2 de agosto, o papa enviou uma carta, escrita de próprio punho e amplamente publicada da qual, por brevidade, extraio apenas o seguinte: “Este ano, o primeiro do meu Pontificado - escreve o Papa Francisco - decidi assinar eu mesmo esta mensagem e enviá-la a vocês, queridos amigos, como expressão de estima e amizade por todos os muçulmanos, especialmente aos líderes religiosos”.
 Ora, nós católicos estamos nauseados pelas inúmeras notícias de perseguição aos cristãos no Egito, Paquistão, Síria etc.





 O Padre Francisco Murad (fotos acima) foi degolado terrivelmente, duzentas moças cristãs estão sequestradas e serão estupradas até a morte; Ainda hoje recebi as fotos abaixo provenientes também da Siria.






menina degolada por ser cristã


Como não ficar desconcertado com a cordialidade demonstrada para com esses perseguidores? E mais, para os perseguidos nenhuma palavra!
Tudo quanto acabo de dizer são fatos publicados na mídia ao alcance de qualquer um.
*  *  *
Outra questão é o avanço do aborto no Brasil. Ainda durante o “eco” da JMJ, foi sancionada uma lei que favorece enormemente a liberação do aborto no Brasil.
E então, como não ficar desconcertado? Teria bastado uma só palavra do Sumo Pontífice, e essa palavra foi implorada por milhares de católicos através de um abaixo assinado ao Arcebispo do Rio de Janeiro, para que essa lei assassina fosse barrada. Tal palavra teria evitado a sanção da lei.
A História dirá que, essa palavra, o Santo Padre não a pronunciou, e por isto o aborto obteve um forte avanço no Brasil. É terrivelmente doloroso dizê-lo. Mas é evidente.
Para nós católicos, como coadunar tal atitude com as seguintes palavras de João Paulo II?
“O aborto a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Leis desse tipo não só não criam obrigação alguma para a consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se a elas através da objeção de consciência. ...No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com ela, nem participar numa campanha de opinião a favor de uma lei de tal natureza, nem dar-lhe a aprovação do próprio voto. (Enc. Evagelium Vitae, 72)
Não bastasse isso, vejamos o que saiu no site da Veja essa semana:
Em uma extensa entrevista a uma revista jesuíta publicada nesta quinta-feira, o papa Francisco criticou o que classifica como "obsessão" dos clérigos em pregar contra o aborto e o casamento gay - e afirmou: a Igreja Católica não tem o direito de interferir espiritualmente na vida dos homossexuais. "A Igreja deve ser uma casa aberta a todos, e não uma pequena capela focada em doutrina, ortodoxia e em uma agenda limitada de ensinamentos morais", afirmou o pontífice.”
E há ainda a questão dos ateus, dos divorciados, do celibato...
Aqui também faço minhas as palavras do Dr. Plinio.
 “Os fatos em que fundo minhas apreensões são por demais claros para que possam ser abafados pelo berreiro de protestos vazios, por atos de reparação ressentidos, mas falhos de qualquer base na realidade, por estrondos publicitários ou campanhas de cochicho.
“Católico apostólico romano, eu o fui durante toda a minha vida. Sou-o, hoje, com maior convicção, energia e entusiasmo do que nunca. E, espero, pela graça de Deus e pela intercessão de Nossa Senhora, que o serei mais e mais até o último alento. Por isto, tributo do fundo de minha alma, ao Sumo Pontífice e à Santa Sé, toda a veneração, todo o afeto e toda a obediência que lhes devo segundo a doutrina e as leis da Igreja.
“Mas sei que, posto diante de fatos claríssimos, não os posso negar, nem deixar de perceber suas consequências.
E sei também que, ainda quando admitidos os fatos irrecusáveis que acabo de enumerar e analisar, tudo quanto a Igreja ensina sobre a infalibilidade e a suprema autoridade dos sumos pontífices continua inteiramente intacto. Assim, estou com a consciência à vontade ao tratar, como católico, do triste e delicado assunto.”
Pergunto: Desejará o Papa Francisco, para o mundo católico, um "modus vivendi" com os mais irredutíveis inimigos da civilização cristã e da Igreja Católica? “Fico a pensar... e enquanto penso, me vem à mente uma fábula de La Fontaine. Infelizmente, é das mais esquecidas. Mas é também das mais oportunas.

“Depois de mil anos e mais de guerra declarada,
os lobos fizeram a paz com as ovelhas.
Era, aparentemente, a felicidade dos dois partidos:
Pois, se os lobos comiam muita rês extraviada,
os pastores, da pele deles [dos lobos], para si faziam muitos trajes.
Jamais havia liberdade, nem para as pastagens [porque as ovelhas eram devoradas],
nem, de outro lado, para as carnificinas [porque os lobos eram caçados]:
Não podiam usufruir de seus bens senão tremendo.
A paz se concluiu, portanto; trocam-se os reféns:
Os lobos entregam seus lobinhos; e as ovelhas, seus cães [os cachorros que as guardavam].
Sendo a troca feita nas formas habituais,
e ajustada por comissários [representantes de ambos os lados].
Ao fim de algum tempo, quando os senhores lobinhos
se viram lobos perfeitos e ávidos de matança,
valem-se do tempo em que, no redil,
os senhores pastores não se achavam,
estrangulam metade dos cordeiros mais gordos



agarram-nos com os dentes e se retiram para os bosques.
Haviam eles avisado sua gente secretamente.
Os cães, que, sob a palavra deles, repousavam confiadamente,
foram estrangulados dormindo.
Foi isto feito tão rapidamente, que os cães mal sentiram;
foram todos feitos em pedaços; nem um só escapou.
Podemos concluir disto
que é preciso fazer aos maus guerra sem quartel.
A paz é bastante boa em si mesma;
concordo: mas de que serve ela
com inimigos sem palavra?”
          

      Termino ainda com as mesmas palavras de Dr. Plinio.


“Da luminosa fábula se deduz que qualquer combinação da Igreja com os inimigos dEla não poderá ser um "modus vivendi", mas um "modus moriendi".

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