O Papa Francisco e os conservadores desconcertados
Marcos Luiz Garcia
Desconcertado,
eu também, com notícias recentemente publicadas na mídia e preocupado com seu
efeito desestimulante sobre os católicos conservadores, busquei uma poltrona
para espairecer. Peguei uma coleção de escritos de Dr. Plinio Corrêa de
Oliveira e me deparei com o profético artigo escrito na Folha de S. Paulo em 1°
de novembro de 1970. Incrível como me esclareceu.
Tenho presente
que toda metáfora claudica, mas isso não impede o recurso didático a ela.
Bastou
atualizar os fatos, que o discernimento se mostrou inteiramente atual. Para que
possam avaliar bem, as palavras dele eu as colocarei em itálico, as adaptações
são minhas.
“Entre
lobos e ovelhas: novo estilo de relações”
“Quanto
mais caminham os fatos, mais desconcertam um setor — que creio [nada
desprezível] — da opinião católica.
“Tal
desconcerto, é preciso que se diga, não decorre apenas da ação ou das omissões
de tantas autoridades pequenas, médias e altas da sagrada hierarquia. Ele sobe
ainda mais.
“Oxalá
alguém me convencesse de que são falsos os fatos meridianamente claros a meu
ver, em que me baseio para fazer esta afirmação.”
Refiro-me
à carta enviada pelo Papa Francisco aos muçulmanos parabenizando-os pelo
término do Ramadan, que desconcertou não só a mim, mas católicos do mundo
inteiro.
No dia 2 de agosto, o papa enviou uma
carta, escrita de próprio punho e amplamente publicada da qual, por brevidade,
extraio apenas o seguinte: “Este ano, o primeiro do meu Pontificado - escreve o
Papa Francisco - decidi assinar eu mesmo esta mensagem e enviá-la a vocês,
queridos amigos, como expressão de estima e amizade por todos os muçulmanos,
especialmente aos líderes religiosos”.
Ora,
nós católicos estamos nauseados pelas inúmeras notícias de perseguição aos
cristãos no Egito, Paquistão, Síria etc.
O Padre
Francisco Murad (fotos acima) foi degolado terrivelmente, duzentas moças cristãs estão
sequestradas e serão estupradas até a morte; Ainda hoje recebi as fotos abaixo
provenientes também da Siria.
menina degolada por ser cristã
Como
não ficar desconcertado com a cordialidade demonstrada para com esses
perseguidores? E mais, para os perseguidos nenhuma palavra!
Tudo
quanto acabo de dizer são fatos publicados na mídia ao alcance de qualquer um.
* *
*
Outra
questão é o avanço do aborto no Brasil. Ainda durante o “eco” da JMJ, foi
sancionada uma lei que favorece enormemente a liberação do aborto no Brasil.
E então,
como não ficar desconcertado? Teria bastado uma só palavra do Sumo Pontífice, e
essa palavra foi implorada por milhares de católicos através de um abaixo
assinado ao Arcebispo do Rio de Janeiro, para que essa lei assassina fosse
barrada. Tal palavra teria evitado a sanção da lei.
A
História dirá que, essa palavra, o Santo Padre não a pronunciou, e por isto o
aborto obteve um forte avanço no Brasil. É terrivelmente doloroso dizê-lo. Mas
é evidente.
Para nós
católicos, como coadunar tal atitude com as seguintes palavras de João Paulo II?
“O
aborto a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender
legitimar. Leis desse tipo não só não criam obrigação alguma para a
consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se
a elas através da objeção de consciência. ...No caso de uma lei intrinsecamente
injusta, como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito
conformar-se com ela, nem participar numa campanha de opinião a favor de uma
lei de tal natureza, nem dar-lhe a aprovação do próprio voto. (Enc. Evagelium
Vitae, 72)
Não
bastasse isso, vejamos o que saiu no site da Veja essa semana:
“Em uma extensa entrevista a uma
revista jesuíta publicada nesta quinta-feira, o papa Francisco criticou o que
classifica como "obsessão" dos clérigos em pregar contra o aborto e o
casamento gay - e afirmou: a Igreja Católica não tem o direito de interferir
espiritualmente na vida dos homossexuais. "A Igreja deve ser uma casa
aberta a todos, e não uma pequena capela focada em doutrina, ortodoxia e em uma
agenda limitada de ensinamentos morais", afirmou o pontífice.”
E há
ainda a questão dos ateus, dos divorciados, do celibato...
Aqui
também faço minhas as palavras do Dr. Plinio.
“Os
fatos em que fundo minhas apreensões são por demais claros para que possam ser
abafados pelo berreiro de protestos vazios, por atos de reparação ressentidos,
mas falhos de qualquer base na realidade, por estrondos publicitários ou
campanhas de cochicho.
“Católico
apostólico romano, eu o fui durante toda a minha vida. Sou-o, hoje, com maior
convicção, energia e entusiasmo do que nunca. E, espero, pela graça de Deus e
pela intercessão de Nossa Senhora, que o serei mais e mais até o último alento.
Por isto, tributo do fundo de minha alma, ao Sumo Pontífice e à Santa Sé, toda
a veneração, todo o afeto e toda a obediência que lhes devo segundo a doutrina
e as leis da Igreja.
“Mas sei
que, posto diante de fatos claríssimos, não os posso negar, nem deixar de
perceber suas consequências.
E sei
também que, ainda quando admitidos os fatos irrecusáveis que acabo de enumerar
e analisar, tudo quanto a Igreja ensina sobre a infalibilidade e a suprema
autoridade dos sumos pontífices continua inteiramente intacto. Assim, estou com
a consciência à vontade ao tratar, como católico, do triste e delicado assunto.”
Pergunto:
Desejará o Papa Francisco, para o mundo católico, um "modus vivendi"
com os mais irredutíveis inimigos da civilização cristã e da Igreja Católica? “Fico
a pensar... e enquanto penso, me vem à mente uma fábula de La Fontaine.
Infelizmente, é das mais esquecidas. Mas é também das mais oportunas.
“Depois de mil
anos e mais de guerra declarada,
os lobos
fizeram a paz com as ovelhas.
Era,
aparentemente, a felicidade dos dois partidos:
Pois, se os
lobos comiam muita rês extraviada,
os pastores, da
pele deles [dos lobos], para si faziam muitos trajes.
Jamais havia
liberdade, nem para as pastagens [porque as ovelhas eram devoradas],
nem, de outro
lado, para as carnificinas [porque os lobos eram caçados]:
Não podiam
usufruir de seus bens senão tremendo.
A paz se
concluiu, portanto; trocam-se os reféns:
Os lobos
entregam seus lobinhos; e as ovelhas, seus cães [os cachorros que as guardavam].
Sendo a troca
feita nas formas habituais,
e ajustada por
comissários [representantes de ambos os lados].
Ao fim de algum
tempo, quando os senhores lobinhos
se viram lobos
perfeitos e ávidos de matança,
valem-se do
tempo em que, no redil,
os senhores
pastores não se achavam,
estrangulam
metade dos cordeiros mais gordos
agarram-nos com
os dentes e se retiram para os bosques.
Haviam eles
avisado sua gente secretamente.
Os cães, que,
sob a palavra deles, repousavam confiadamente,
foram
estrangulados dormindo.
Foi isto feito
tão rapidamente, que os cães mal sentiram;
foram todos
feitos em pedaços; nem um só escapou.
Podemos
concluir disto
que é preciso
fazer aos maus guerra sem quartel.
A paz é
bastante boa em si mesma;
concordo: mas
de que serve ela
com inimigos
sem palavra?”
Termino ainda com as mesmas palavras de Dr. Plinio.
“Da
luminosa fábula se deduz que qualquer combinação da Igreja com os inimigos dEla
não poderá ser um "modus vivendi", mas um "modus moriendi".
Nenhum comentário:
Postar um comentário