quinta-feira, 5 de abril de 2012

Semana Santa

Catolicismo Nº 112 - Abril de 1960

Como pôde o mundo odiar Aquele que passou fazendo o bem?



"Popule meus, quid feci tibi? Aut in quo contristavi te?" - "Ó meu povo, que mal te fiz Eu, ou no que te contristei?" - Estas palavras, que a liturgia da Sexta-Feira Santa põe nos lábios de Nosso Senhor, estão bem no centro do tema que acabamos de enunciar.
Que um homem odeie quem lhe faz mal pode ser censurável, porém não é incompreensível. Mas como pode um homem odiar quem é bom, quem lhe faz bem?
Este problema é quase tão velho como a humanidade. Por que Caim odiou Abel? Por que os judeus perseguiram e não raro mataram os profetas? Por que os romanos perseguiram os cristãos?
Mais recentemente, porque foi difundido pelos protestantes tanto sangue de mártires, porque fez o mesmo a Revolução Francesa, ou a Revolução bolchevista na Rússia? Em nossos dias, como explicar o ódio dos comunistas na guerra civil espanhola, nas perseguições do México, da Hungria e da Iugoslávia? A terra ainda chora a morte do Cardeal Stepinac. Pergunta-se: porque foi ele tão odiado?
Bem sabemos que, formuladas assim, tais perguntas parecerão a muitos um tanto simplistas. O ódio dos inimigos da Igreja nem sempre foi gratuito. Não faltaram, por vezes, também da parte dos católicos, provocações e excessos que geraram reações. De outro lado, houve, em certo número de casos, equívocos, mal-entendidos e incompreensões que deram lugar a violências. Houve então mártires, não porque a Igreja fosse devidamente conhecida e sem embargo odiada como tal, mas precisamente porque ela era desconhecida ou desfigurada indevidamente.
Não negamos nada disto. Mas reduzir a estas causas o ódio das trevas contra a Luz, do mal contra o Bem, isto sim é singularmente simplificar o problema.
É o que na Paixão se evidencia com clareza meridiana.
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Notemos preliminarmente que, se os católicos podem ter falhas, Nosso Senhor não as teve. Quer quanto ao fundo e à forma de sua pregação, quer quanto ao tato e à oportunidade com que ensinava, quer ainda quanto ao caráter edificante de seus exemplos, ao valor apologético de seus milagres, e ao aspecto santíssimo e empolgante de sua Pessoa, não podia haver dúvida. Ele não deu pretexto a nenhuma objeção legítima, a nenhuma queixa sólida.
Pelo contrário, só deu ocasiões a que O adorassem e O seguissem. Entretanto, também Ele foi odiado, mais odiado até do que seus fiéis ao longo dos séculos. Como explicar isto? É que nos filhos das trevas há um ódio que se volta precisamente contra a Verdade e o Bem.
É pois inútil querer atribuir tudo a um mero jogo de equívocos. Estes têm existido. Mas não resolvem o problema.
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Mas há almas que vão mais longe. Movidas pela sensualidade, pelo orgulho, por outro vício qualquer, levam a malícia tão longe, de tal maneira se identificam com o pecado, que chegam a só se sentir bem onde se lisonjeiam seus maus hábitos, e a não suportar nada que constitua censura ou até mero desacordo em relação a eles. Daí um ódio aos bons e ao Bem, aos paladinos da verdade e à mesma Verdade, que lhes dá como que um ideal negativo. Voltaire o exprimiu muito bem em seu lema "écraser l'infâme" ( esmagar o "infame", isto é, ao Verbo Encarnado! ). Fazer disto um anelo de todos os momentos, o "ideal" de uma vida, eis o que é a quintessência da impiedade. Gente assim tem todos os requisitos para planejar, urdir e executar a perseguição. Se em Israel não houvesse gente assim, Nosso Senhor não teria sido crucificado.
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Deus não nega sua graça a ninguém. Ímpios destes também podem converter-se, e de todo o coração. Contudo, cumpre acrescentar que, enquanto não o fazem, já têm nesta terra a mais importante característica dos condenados ao inferno.
Realmente, pensa-se em geral que os precitos, se pudessem, fugiriam todos para o Céu. Não é verdade. Eles têm tanto ódio a Deus que, ainda que pudessem livrar-se do fogo eterno no qual estão presos, não o fariam se tivessem para isto que prestar a Deus ato de amor e obediência.
É tal a força deste ódio. E é à luz disto que se compreende bem o que chamaríamos de ímpio de segundo grau.
Foi esta impiedade requintada a força motriz que animou a Sinagoga na revolta contra o Messias. Foi ela que moveu a luta dos ímpios contra a Igreja, contra os bons católicos, no decurso dos séculos.
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Senhor, nesta hora de misericórdia em que consideramos vosso Corpo sacrossanto a verter por todos os lados vosso Sangue redentor, pedimos-Vos, pelos méritos infinitos desse mesmo Sangue preciosíssimo e pelas lágrimas de vossa e nossa Mãe, nos mantenhais muito e muito longe de qualquer impiedade: "não permitais que nos separemos de Vós", de todo o coração Vo-lo imploramos.
Por toda parte onde ímpios perseguem filhos da luz, e muito especialmente na Igreja do Silêncio, sede a força dos perseguidos, não só para que não desfaleçam, como para que se levantem, se articulem, e esmaguem vosso adversário. Pelo Imaculado Coração de Maria Vo-lo rogamos.
E já que à última hora ainda prometestes o Paraíso a um celerado, Senhor, pelos méritos de vossa agonia Vos suplicamos, em união com Maria, que vossa misericórdia desça até os antros ocultos da impiedade, a fim de convidar para as vias da virtude até vossos piores adversários.
E ainda por misericórdia, Senhor, confundi, humilhai e reduzi à inteira impotência os que, recusando os mais extremos apelos de vosso amor, persistem em trabalhar para destruir a civilização cristã e até – como se possível fosse – vossa Esposa mística, a Santa Igreja.




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