quinta-feira, 21 de março de 2013

Às vesperas da Semana Santa, uma reflexão


A Paixão de Cristo revive na Paixão da Igreja

Plinio Corrêa de Oliveira

25-Fevereiro-1994

A evidência dos fatos deixa patente que a partir do Concílio Vaticano II penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a "fumaça de Satanás", de que falou Paulo VI, a qual se foi dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gazes. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo entrou no sinistro processo da como que autodemolição, a que aludiu aquele mesmo Pontífice, em Alocução de 7 de dezembro de 1968.

A História narra os inúmeros dramas que a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana sofreu nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora dEla, e de fora mesmo tentaram destruí-La. Tumores formados dentro dEla, extirpados, contudo, pela própria Esposa de Cristo; mas que, já então de fora para dentro, tentaram destruí-la com ferocidade.

Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais articulada por um adversário, mas qualificada de como que autodemolição em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial?

A atitude normal de um católico vendo a Igreja, sua Mãe, passar por essa crise deve ser antes de tudo de profunda tristeza, porque é lamentável que isso seja assim. É um perigo para incontáveis almas que a Igreja seja afligida por tal crise. E, por essa razão, pode-se ter a certeza de que, quando Nosso Senhor, do alto da cruz, viu todos os pecados que haveriam de ser cometidos contra a obra da Redenção que Ele consumava de modo tão profundamente doloroso, sofreu enormemente, em vista de tal gênero de pecados, cometidos em nossos dias.

E, evidentemente, todos esses pecados produziram sofrimentos verdadeiramente inenarráveis no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, que pulsava de dor no peito da Santíssima Virgem enquanto Ela estava de pé, junto à Cruz.

Considerando quanto Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe sofreram por causa do que agora está se passando, é impossível não se ficar consternado, muito mais do que em qualquer Sexta-Feira Santa anterior, porque, talvez, este seja dos pontos mais agudos da Paixão e que se mostra em toda a sua hediondez, nas atuais circunstâncias da vida da Igreja.

* * *

O homem contemporâneo é um adorador do prazer, do gáudio, da diversão, e tem horror ao sofrimento.

Ora, está-se aqui em presença de um padecimento agudíssimo. Pode-se compreender, pois, embora tal atitude não seja justificável, a posição de tantas almas que evitam pensar nisso e considerar a fundo o que está se passando para não sofrer em união com Nosso Senhor esta situação trágica, como trágica foi a Paixão.

Em face do drama em que se encontra a Santa Igreja, muitas almas procuram, então, assumir uma posição de indiferença, parecida com a de numerosos contemporâneos de Nosso Senhor, que acreditavam que Ele era Homem-Deus. Mas que, durante a Via Sacra, vendo-O passar, em vez de se compadecer por seus lancinantes sofrimentos, achavam entretanto melhor não considerá-los, mas pensar em outras coisas.

E eis a prova: Nosso Senhor pregou maravilhas e fez milagres portentosos que devem ter impressionado pelo menos uma parte considerável do povo que O cercava. Não seria concebível que essa parte, santamente impressionada, tenha se mantido numa atitude tão quieta, inerte, diante do que se passava. E que a única pessoa que fez algo em prol do Redentor, durante a parte inicial da Via Sacra, tenha sido a Verônica com o seu véu, no qual ficou estampada, depois, a face sagrada do Salvador. Verdadeiramente, mais ninguém tomou tal atitude a não ser ela.

As santas mulheres e Nossa Senhora juntaram-se mais adiante a Nosso Senhor e foram até o alto do Calvário. A Virgem Santíssima está acima de todo elogio. As santas mulheres, que A acompanharam, merecem um elogio que participa do louvor a que Nossa Senhora fez juz. Mas, fora disso, inércia.

Por ocasião da Semana Santa, o que mais se deve pedir a Nossa Senhora, é que Ela nos liberte desse estado de espírito, de tal mentalidade.

Se nosso Redentor está sofrendo, devo querer padecer aquilo que O atormenta. E sofrerei isso meditando nas dores dEle. Esse é o meu dever, dada a união que Ele condescendeu misericordiosamente em estabelecer entre Si mesmo e mim. E o que não for isso não pode deixar de ser qualificado senão de abominável.

Os dias em que vivemos são de gravidade, de tristeza, mas na última fímbria do horizonte aparece uma alegria incomparavelmente maior do que qualquer gáudio terreno: a promessa de um sol que nascerá – o Reino de Maria, anunciado, no ano de 1917, por Nossa Senhora, em Fátima.

disponível em:

 

terça-feira, 19 de março de 2013

Patrono da Igreja


São José

Protetor da Igreja Católica


Plinio Corrêa de Oliveira

Março de 1969

Há várias invocações de São José que poderíamos considerar. Eu creio que, dessas invocações, depois das que dizem diretamente respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo, nenhuma é mais bonita do que “Protetor da Igreja Católica”.

Protetor de algo é, de algum modo, um símbolo daquilo que se protege. Os senhores considerem, por exemplo, alguém que é guarda da rainha [da Inglaterra, Elisabeth II]. Este, de algum modo, toma em si algo da realeza da rainha; é uma honra ser guarda da rainha! Escolhem-se para serem guardas da rainha os indivíduos mais capazes, os que tiveram maior coragem, os que nas guerras provaram maior dedicação à coroa inglesa. Estes são os convidados para serem os guardas da rainha.

Se é uma honra ser guarda da rainha, se é uma honra ser guarda do Papa, então que honra é ser guarda da Santa Igreja Católica!

Exceção feita de Nossa Senhora que é Mãe da Igreja, ninguém pode se comparar à Igreja Católica. Nem qualquer Anjo ou todos os santos considerados cada um separadamente tem a dignidade da Igreja Católica. Porque a Igreja envolve todos os santos e Ela é a fonte da santidade desses santos e, portanto, um santo nunca pode ter a dignidade igual à da Igreja Católica.

* A envergadura moral do esposo de Nossa Senhora e Pai adotivo do Menino Jesus...

Os senhores imaginem, portanto, o que é o santo que é o Padroeiro da Igreja Católica! Ele tem que ser algo de tão alto, de tão excelso que, por assim dizer, tem que ser o reflexo da Igreja que ele guarda! Para estar proporcionado a Ela, tem que ter o reflexo da Igreja que guarda.

Podemos considerar que a envergadura espiritual de São José - enquanto co-idêntico com o espírito da Igreja Católica, enquanto sendo exemplar prototípico e magnífico da mentalidade, das doutrinas, do espírito da Igreja Católica - só se pode medir por esse outro critério: é o fato dele ser Esposo de Nossa Senhora e proporcionado, portanto, a Nossa Senhora; ser o Pai adotivo do Menino Jesus e, portanto, proporcionado ao Menino Jesus!

Se quisermos ter uma idéia da alma de São José, do espírito de São José, seria preciso imaginar tudo quanto a gente pensa da Igreja Católica, toda a grandeza da Igreja, toda a simplicidade da Igreja, toda a dignidade da Igreja, toda a afabilidade da Igreja, toda a sabedoria da Igreja, toda a imensidade da Igreja, tudo quanto se pudesse dizer da Igreja Católica e imaginar isto realizado num homem! E então teríamos a fisionomia moral de São José!

Devemos imaginar, pelo menos, o perfil moral desse Santo: a castidade de São José, sua pureza ilibadíssima. E devemos nos aproximar dele com respeito, com veneração e pedir-lhe que nos conceda aquilo que tanto desejamos receber.

* O que pedir a São José em sua festa?

Cada um se pergunte a si próprio - num exame de consciência de um minuto - qual é a graça que quer pedir a São José por ocasião da festa de hoje. A primeira das graças a pedir seria a da devoção a Nossa Senhora; outra, a graça de refletir tão bem o espírito da Igreja Católica quanto esteja nos desígnios da Providência ao nos ter criado e ao nos ter conferido o santo Batismo; podemos pedir a pureza, a despretensão... podemos pedir tudo. Podemos escolher cada uma dessas coisas ou pedir todas essas coisas no seu conjunto.

Às vezes, é bom a gente pedir uma coisa só, se a graça nos leva a pedir uma coisa só. Às vezes, é bom pedirmos tudo, porque há momentos em que a graça nos leva a sermos audaciosos e a pedir muita coisa ao mesmo tempo.

E então hoje, na festa de São José, conforme o movimento da graça interior em cada um de nós, devemos pedir alguma coisa a ele. E se não soubermos bem o que pedir a São José, dizer a ele: “Meu bom São José, dai-me Vós aquilo de que preciso... uma vez que nem sequer sei o que me convém.” Eu acredito que, no mais alto dos Céus, ele sorrirá e dará, com bondade, alguma graça muito bem escolhida. E com isto fica nossa invocação a São José.
 

 
Disponível em : http://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_690319_SaoJose.htm

quinta-feira, 14 de março de 2013

Habemus Papam


A América Latina entra na História

 

A cada conclave, o surgimento da “fumata bianca” na chaminé da Capela Sixtina assinala o momento em que pelo orbe católico se espalha a notícia, sempre prenhe de júbilo e de esperança, de que a Barca de Pedro tem um novo timoneiro; bem como alimenta a expectativa do anúncio solene do “habemus Papam”, feito pelo Cardeal Protodiácono, quando todos, afinal, conhecem o nome escolhido para ocupar a Cátedra de Pedro. Tal a força divina da Santa Igreja que esse evento cria compreensível emoção até entre muitos daqueles que afirmam não professar qualquer fé religiosa.

O anúncio da eleição do Cardeal D. Jorge Mario Bergoglio, como Papa Francisco, repetiu, uma vez mais, todo este ritual solene em que se mesclam esperanças, preces confiantes e gestos solenes. É fácil perceber que tal escolha tenha causado especial comoção e alegria entre os católicos latino-americanos. Ver, pela primeira vez, no Sólio de São Pedro, um Pastor oriundo do chamado Continente da Esperança é fator compreensível de orgulho.

Essa escolha de um primeiro Papa argentino reconhece o papel central da América Latina na vida da Santa Igreja e do mundo contemporâneo e, mais ainda, o papel primordial que a esta caberá no reerguimento da civilização cristã.

Vem-nos à memória, nesse particular, as proféticas palavras do diretor do jornal O Legionário, o então jovem deputado Plinio Corrêa de Oliveira, num artigo de 15 de outubro de 1933, intitulado precisamente “A missão da América Latina”:

“Nesta tarde de civilização, que ameaça ser a tarde da própria humanidade, só dois fatores nós vemos realmente capazes de abrir para o homem uma janela salvadora sobre o futuro: no plano espiritual, a Igreja Católica, e no plano terreno, a América Latina.

Uma lenda antiga nos conta que à beira de certo lago havia um rochedo que crescia à medida que as ondas o acometiam, de sorte a nunca ser submergido, ainda nas maiores tempestades. Hoje em dia, este rochedo é a Pedra, é a Cátedra de Pedro, que tem avultado com as revoluções, zombando das heresias, crescendo em vigor à medida que seus adversários crescem em rancor. [...] Assistiu ao nascer de todos os países do Ocidente. Vê-los-ia morrer sem receios por seus próprios dias, que não se contam com a brevidade dos dias de uma nação. [...]

Para atuar, porém, ela também se serve de fatores humanos. E, destes, o mais promissor é a América Latina.

Tenham embora os católicos latino-americanos pecado como pecaram, não pesa sobre os ombros de suas nações, ainda na infância, a culpa esmagadora de que [outros continentes] são réus. [...] É certo que a nós, como nações, se poderia aplicar a frase de Santo Agostinho: “tantilus puer, et tantum peccator!”- Tão jovem, e já tão grande pecador!

No entanto, nunca partiu daqui um grito de heresia. [...] Apesar dos pesares, nossos costumes ainda conservam muito daquela suave urbanidade que é a característica das índoles cristãs. [...] Quando, portanto, da imensa caldeira em que fervem os restos de nossa civilização emergirem os primeiros princípios de uma nova ordem de coisas, tendo por base o respeito à Igreja, à propriedade e à família, só a América do Sul oferecerá ao mundo um caminho a ser edificado, com suas regiões imensas, que as crises econômicas não esgotaram, e seus povos de reservas morais sólidas, que até lá terão passado pelo cadinho do sofrimento, e nele terão formado sua têmpera de povos fortes.

A América do Sul será, portanto, o grande laboratório onde a nova civilização católica se vai erguer.”

Numerosos analistas apontam para a eleição e a ação do Papa Wojtyla como um dos fatores decisivos para a derrubada do Comunismo moribundo na Europa de Leste. Possam a eleição e a ação do Papa Francisco derrubar o seu sucedâneo crioulo, o neo-socialismo populista do século XXI, também ele moribundo depois da saída de Hugo Chávez da cena latino-americana!

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, nas sendas de seu inspirador, não pode deixar de almejar ao novo Pontífice, em quem reside o poder das chaves, graças especiais que inspirem suas decisões soberanas – independentes dos juízos dos homens – e sua missão pastoral, atenta às aspirações e necessidades autênticas do rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Oremos para que sua atuação encha de clareza os espíritos, dê força aos ânimos, e dê glória à Igreja santa de Deus”.

Foi neste estado de ânimo que o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira dirigiu ao Papa Francisco o seguinte telegrama:

São Paulo, 14 de março de 2013.

À Sua Santidade
o Papa Francisco,
Palácio Apostólico
00120 Cidade do Vaticano
Vaticano

Santidade,

Neste momento de júbilo para os católicos, pela eleição de um novo Pontífice, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, seus diretores, membros e simpatizantes, dirigem-se a Vossa Santidade, após sua eleição ao Trono de São Pedro, para prestar-lhe a filial homenagem de sua fidelidade.

Vossa eleição enche de especial orgulho e alegria os corações dos latino-americanos, ao verem pela primeira vez no Sólio Pontifício um filho deste Continente da Esperança, tão amado de Deus e que ao longo de seus cinco séculos de história enriqueceu a Santa Igreja com o vigor de sua Fé e de seu devotamento.

Erguemos a Nossa Senhora de Guadalupe, Imperatriz das Américas, preces ardorosas a fim de que Ela obtenha da Divina Providência para Vossa Santidade suas mais escolhidas graças, com vistas a conduzir a Barca da Santa Igreja com a sabedoria e a firmeza que as tormentosas circunstâncias do mundo contemporâneo impõem.

Animados por essa esperança, pedimo-Vos, Santo Padre, nos concedais a Vossa Bênção Apostólica.

Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

Adolpho Lindenberg

Presidente

 

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

TU ES PETRUS




O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito o novo papa, anunciou nesta quarta-feira o cardeal diácono francês Jean-Louis Tauran ao aparecer na varanda central da Basílica de São Pedro.

 Bergoglio, que adotA o nome de Francisco i e se tornou o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história, terá a missão de liderar os 1,2 bilhão de católicos do mundo após a renúncia de Bento 16, oficializada em 28 de fevereiro guiando a Barca De Pedro em um momento tempestuoso de crise na Santa Igreja.

Oremos pelo novo Pontífice para que à luz da Mensagem de Nossa Senhora de Fátima guie a Igreja restaurando todas as coisas em Cristo.

terça-feira, 12 de março de 2013

Meditação

Quaresma e Semana Santa

Utilíssima Meditação

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA




     Há erros funestíssimos entre os católicos brasileiros, e que com extraordinária oportunidade devem ser desmascarados na Semana Santa. Pouco nos importa que outros não cumpram o seu dever. Cumpramos o nosso. E depois de termos feito todo o possível, resignemo-nos diante da avalanche que vem. Porque, ainda que pereçam o Brasil e o mundo inteiro, ainda que a própria Igreja seja devastada pelos lobos da heresia, ela é imortal. Singrará as águas revoltas do dilúvio. É de dentro de seu seio sagrado que sairão depois da tempestade, como Noé da arca, os homens que hão de fundar a civilização de amanhã.
     Mas é aí que não querem chegar certos católicos. Eles só compreendem Cristo sobre um trono de glória, só Lhe são fiéis nos dias parecidos com o Domingo de Ramos, quando a multidão O aclama. Para eles, Cristo deve ser um rei terreno, deve dominar o mundo constantemente. E se a impiedade dos homens O reduz de rei a crucificado, de soberano a vítima, não mais se importam com Ele.
     Cristo quis passar por todos os opróbrios, todos os vexames, todas as humilhações, mostrando que a História da Igreja também teria seus calvários, suas humilhações, suas derrotas, e que muito mais meritória era e é a fidelidade no Gólgota do que no Tabor.
     Foi para ensinar homens assim, que Nosso Senhor se submeteu a todas as humilhações no Calvário. Há pessoas de uma mentalidade detestável, que julgam absolutamente natural o Redentor sofrer, a Igreja ser vexada, humilhada, perseguida. “É a Paixão de Cristo que se repete”, dizem eles. E enquanto essa Paixão se repete, levam sua vida farta e cômoda nas orgias, nas imundícies, na exacerbação de todos os sentidos e na prática de todos os pecados. Para tais indivíduos é que foi feito o látego com que foram expulsos os vendilhões do Templo.
     Não é verdade que devamos cruzar os braços ante as investidas dos inimigos da Igreja. Não é verdade que devamos dormir enquanto se renova a Paixão. O próprio Cristo recomendou que seus Apóstolos orassem e vigiassem. E se devemos aceitar os sofrimentos da Igreja com a resignação com que Nossa Senhora aceitou os padecimentos de seu Filho, não é menos exato que será um motivo de eterna condenação para nós, se nos portarmos ante as dores do Salvador com a sonolência, a indiferença e a covardia de discípulos infiéis.
     A verdade é esta: devemos estar sempre com a Igreja, “porque só ela tem palavras de vida eterna”. Se ela é atacada, lutemos por ela. Mas lutemos como mártires, até a efusão de nosso sangue, até o nosso último recurso de energia e de inteligência. Se, apesar disso tudo, ela continuar a ser oprimida, soframos com ela, como São João Evangelista ao pé da Cruz. E estejamos certos de que, neste mundo ou no outro, Jesus misericordioso não nos privará do esplêndido prêmio de assistirmos à sua glória divina e suprema.


     _________

     Publicado no Jornal Legionário, nº 236, 21/03/1937.

segunda-feira, 11 de março de 2013


PENSE NISSO!


 Rezemos por um Papa Santo!

            Atravessamos um momento gravíssimo da história da Igreja, pois uma crise gravíssima fez com que um Papa renunciasse ao seu Pontificado.
            Para nós católicos, é um momento de dura provação diante do qual não podemos nos deixar abalar nem perder a certeza de que, haja o que houver, a verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana é imortal, porque é a única igreja verdadeira do único Deus verdadeiro, e que sairá sempre vitoriosa sobre seus inimigos, ainda que demore algum tempo.
            Precisamos rezar para que o Papa escolhido seja um grande santo e esteja à altura de tamanha crise. Que enfrente os problemas provocados por essa modernização toda e, com a assistência do Espírito Santo, que o assiste, conduza a nossa Santa Igreja à vitória o quanto antes.

            Que tudo se restaure e venha logo o triunfo do Imaculado Coração de Maria!
           
           
            

sexta-feira, 8 de março de 2013

Clareza



Tendo em vista o “Processo de Autodemolição” e a “Fumaça de Satanás”, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA





A revista Catolicismo deste mês (edição nº 747), publica um luminoso artigo de Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) que — como o leitor certamente perceberá — está impressionantemente vinculado aos acontecimentos da época atual de Sé Vacante[1]. Como se sabe, é o interregno iniciado no dia 28 último, com a renúncia de Bento XVI, e que se encerrará quando for escolhido seu sucessor.
Apesar de ser um artigo que veio a lume há 35 anos (publicado na “Folha de S. Paulo” em 16-8-78), o autor, como afirma a revista, às vésperas de um novo Conclave[2], “poderia levantar em linhas gerais as mesmas perguntas nele formuladas, para as quais todos os católicos desejariam respostas claras”.
A seguir transcrevemos tal matéria, que o eminente líder e pensador católico escreveu às vésperas do Conclave de agosto de 1978, que elegeu o Papa João Paulo I.
___________
[1] Sé Vacante — do latim “Trono Vazio”.
[2] Conclave — do latim cum clave, que significa com chave. É a reunião fechada dos Cardeais na Capela Sistina para a eleição do Romano Pontífice.

CLAREZA
 Plinio Corrêa de Oliveira

Nesta época em que o público tem tanta influência até mesmo nos círculos mais reservados — nesta época em que tanta gente confunde público com publicidade, e imagina candidamente que a face da publicidade exprime sempre a do público — nesta época, enfim, em que tantas vezes um público átono, adormecido, deixa correr os acontecimentos sem entender o clamor publicitário, nem a conduta dos homens públicos, frequentemente hipersensíveis a tal clamor, pergunto: será real que as multidões veem e sentem as coisas como as apresentam tantos dos chamados meios de comunicação social?
No tocante ao Brasil, como à Igreja, sou levado a responder pela negativa. Deixo aqui de lado o Brasil, pois assim o manda o amor à brevidade. E passo a falar da Igreja. Da Igreja, sim, nestas vésperas de Conclave.
* * *
Diante do caudal de nomes de candidatos ao Papado que lhe vão sendo apresentados, o povo não quer saber tanto qual o lugar de origem, a idade e a carreira eclesiástica, nem qual a fisionomia deles (fisionomia que cabe, o mais das vezes, em uma das variantes em curso: jovial-risonha, caridosa-tristonha, desgrenhada-frenética, esta última ainda não em voga para cardeais).
O que o povo quer saber se reduz a esta pergunta principal: Paulo VI anunciou que a Igreja estava sendo vítima de um misterioso “processo de autodemolição” (Alocução de 7-12-68) e que nela penetrara a “fumaça de Satanás” (Alocução de 29-6-72). O falecido Pontífice — ante cujos restos mortais me inclino aqui com a devida veneração — partiu, pois, para a eternidade com a autodemolição em curso, e a fumaça de Satanás em expansão.
O que pensará seu sucessor sobre a autodemolição e a fumaça? Como se conduzirá ante uma e outra? Mil outras questões poderiam ser formuladas acerca do novo Papa. Mas as que acabo de considerar primam sobre as demais. Pois quem navega numa barca em meio à pior fumaça, e em companhia de passageiros que vão desconjuntando o madeirame, se interessa de imediato e principalmente em saber o que vai ser feito a respeito da fumaça e dos demolidores da barca. Ora, a Santa Igreja de Deus é a admirável, a nobilíssima, eu quase diria, a adorável Barca de Pedro. É natural que tais perguntas, se as formulem, nestes dias, também os passageiros desta Barca.
São incontáveis os católicos segundo os quais a fumaça e a autodemolição se identificam, a justo título, com duas grandes tendências existentes na Igreja de nossos dias. Uma destas tendências se desenvolve no plano teológico, filosófico e moral. É o progressismo.
A outra tendência se desenvolve no tríplice plano diplomático, social e econômico. Ela se chama, segundo o ângulo em que é considerada, aproximação com o Leste, aproximação com o socialismo e aproximação com o comunismo.
Se considerarmos que o progressismo é, por sua vez, uma aproximação com os mil aspectos do que se convencionou chamar “mentalidade moderna” (a qual é, até certo ponto, uma ficção a que poucos homens aderem inteiramente, muitos só aderem com restrições e em proporções acentuadamente variáveis, e que não poucos rejeitam), chegamos à conclusão de que o futuro Papa terá seu pontificado essencialmente marcado pela atitude que tomar diante disto que podemos qualificar de dupla aproximação: a) a mundano-publicitária-progressista; b) a socialo-comunista.
Desculpe-me o leitor os neologismos. Talvez conviesse compô-los de outra maneira. Apresentam-se-me ao correr da pena, e me servem para exprimir fácil e rapidamente o que quero dizer. Poupam, assim, o tempo do leitor, como o meu. Em nossa época, a pressa obtém indulgência para muitas deselegâncias…
O que pensam dessas aproximações os múltiplos cardeais cujos nomes vão sendo lançados como “papabili”? Como vê cada um deles as correntes rumo às quais esses movimentos de aproximação os convidam? Como hidras que é preciso abater desde logo com o gládio de fogo do Espírito? Como adversárias inteligentes, dúcteis, e talvez um pouco bobas, com as quais é possível conduzir lentas, cômodas e quiçá até cordiais negociações? Como parceiras em uma coexistência, ou mesmo colaboração perfeitamente aceitável, e por alguns lados até simpática? Estas são, entre mil, as perguntas que a maioria dos passageiros da sacrossanta Barca de Pedro gostariam de fazer a cada “papabile”.
E para estas perguntas, que pairam no ar, o mais das vezes não vejo em torno de mim senão fragmentos de respostas, opacos, viscosos, totalmente insatisfatórios.
Ora, queiram ou não queiram, quando do alto da loggia de São Pedro [foto] for proclamado o nome do novo Papa, e o consueto clamor de alegria se levantar da imensa praça circundada pelas colunatas berninianas, ao mesmo tempo uma muda mas ansiosa interrogação se apresentará aos espíritos. Será o novo sucessor de São Pedro, ante os promotores das aproximações, um batalhador, um negociador, ou um ajeitador?
E ele, em quem residirá o excelso poder das chaves, cujas decisões são soberanamente independentes dos juízos dos homens, mas cuja missão pastoral não o poderá deixar indiferente às aspirações e necessidades das ovelhas, se perguntará, na hora solene da sua aclamação: qual das três atitudes espera de mim este povo imenso?
Enquanto aguardamos, na prece ininterrupta, submissa e confiante, esse momento ápice do primeiro encontro estuante de júbilo e carregado de preocupações, resta-nos perguntar: o que deseja a grei fiel?
Vários, é bem claro, têm sua preferência definida por um papa que tome inteiramente esta ou aquela das atitudes, ante a dúplice aproximação. Classifico-me, todos o sabem, entre os que exultariam com a escolha de um papa combativo como São Gregório VII ou São Pio X. Outros preferem nitidamente um papa “aproximacionista”, como foi em seu tempo Pio VII. E assim por diante.
Mas a imensa maioria dos fiéis, o que desejará ela?
À primeira vista, parece apática. Tal apatia será desinteresse? Não o creio.
O que será então? A meu ver, é a expressão do concerto respeitoso, e por isso mesmo silencioso, de quem não entende, não concorda e nem ousa discordar.
Essa imensa maioria, em cujo silêncio me parece discernir traços óbvios de fadiga, angústia e desânimo, deseja de imediato, e antes de tudo, clareza.
Sim, ela deseja, num silêncio que se vai tornando enfaticamente perplexo, saber sobretudo o que é esta fumaça, quais são os rótulos ideológicos e os instrumentos humanos que servem a Satanás como sprays de tal fumaça, no que consiste a demolição, e como explicar que esta demolição seja, estranhamente, uma autodemolição?
Não é o que o senhor gostaria de saber, leitor? A senhora, leitora? Pois eu também. E como nós, milhares, milhões, centenas de milhões de católicos.


E o que há de mais justo, de mais lógico, de mais filial e de mais nobre do que pedirem os filhos da luz, àquele a quem foi dito: “Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, pedirem-lhe clareza?