quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

104º ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO



Plinio Corrêa de Oliveira:  
grandes exemplos em meio a acirrada luta


Leo Daniele

Já se tem escrito sobre a épica pugna de Plinio Corrêa de Oliveira, e também sobre sua brilhante, inspirada e abarcativa obra intelectual, em que sobressaem “Revolução e Contra-Revolução” e “Nobreza e Elites Análogas nas Alocuções de Pio XII”, traduzidas para muitas línguas, publicadas em muito países, além de muitas outras obras.

Mas neste artigo tentarei dizer algo sobre seus exemplos pois, como diz a doutrina católica e ele mesmo ressaltava, o exemplo prevalece sobre o ensinamento.[1]

E seus bons exemplos foram públicos e notórios. Em primeiro lugar, ele foi um homem de sociedade, muito fino, muito dotado, rico de inúmeras qualidades que, para servir a Igreja, deu as costas a uma carreira que poderia ser fulgurante.

Disse certa vez um homem de posição, vendo-o, num restaurante, conversar com alguns jovens: “Você, na sua idade, sendo quem é, com os meios intelectuais que tem, você já poderia ser Governador de Estado, poderia daqui a pouco ser Ministro de Estado, e até, de futuro, Presidente da República. Em vez disto, você está aqui conversando com esta meninada e perdendo seu tempo, enterrando sua vida e fracassando”. Por essas palavras é possível ver claramente, em palavras não isentas de aversão e talvez de inveja, quão brilhante poderia ter sido a carreira a que Dr. Plinio renunciou. Tudo por amor à Igreja.
 
Passaram-se alguns anos desta cena, e em 1975 Dr. Plinio sofreu um terrível desastre de automóvel. Pouco antes, ele conversava com seus amigos. Estava com determinada intenção em mente, e recorda: “eu ofereci a Ela (Nossa Senhora) que fizesse acontecer qualquer coisa comigo que me fizesse sofrer muito”. Dois dias depois, veio a tragédia e durante seus últimos 20 anos de vida, ele teve de conformar-se a usar uma cadeira  de rodas e sofrer os inúmeros incômodos decorrentes, com paciência exemplar.

Seria um não acabar nunca relatar fatos de sua vida que foram modelares, mas o espaço é curto. Sem pretender ser completo, enumero algumas de suas qualidades típicas. É quase impossível não começar por sua Seriedade.

Para ele, Seriedade não queria dizer sisudez. Com a grande imponência de porte que lhe era natural, ele sabia aliar essa virtude a certa jovialidade, para entreter os outros e colocá-los à vontade.

Para ele, Seriedade era sobretudo, “ver, ver de frente, ver por inteiro”. “O primeiro elemento da Seriedade é uma inteira objetividade: ver a realidade inteiramente como ela é, sem véus nem preconceitos, nem torcidas, nem adaptações”.[2]

Detestava aquilo que os de língua inglesa criticam com a expressão “wishfull thinking”, ou seja, pensar de acordo com seus desejos, o que é uma disfarçada falta de Seriedade. Se havia alguma má notícia, queria que lhe fosse dada logo, sem os tão frequentes eufemismos ou atenuações.

Seriedade para ele era sobretudo pensar no sublime. Tive certa vez um despacho com Dr. Plinio, especialmente complicado devido aos assuntos em pauta. Quando terminou, disse-lhe que admirava muito a distância que ele tomava em relação aos assuntos concretos, e perguntei como, depois de um despacho árido como esse do qual eu saía quase arrasado, ele conseguia portar-se como se nada houvesse acontecido, apreciar uma coisa bonita e fazer comentários maravilhosos.

Ele respondeu: Conseguir, esse é o erro! Você não devia perguntar como eu consigo, porque não é uma questão de conseguir! Mas sim, quais são os panoramas tão altos, tão maravilhosos que eu vejo continuamente, que fazem com que esses problemas árduos não me apoquentem!’

Em Dr. Plinio, a Seriedade faz lembrar, por contiguidade, a Inocência. Que é esta qualidade? Na concepção pliniana, há uma Inocência plena, que vai além do meramente não nocente: além do que não pratica o mal.

Ensinava ele: “Inocente é o homem de todas as idades que adere àquele estado de espírito primevo de equilíbrio e de temperança em que foi criado, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de retidão, de maravilhoso”.[3]

O conceito pliniano de Inocência, portanto, vai muito além da idade e da acepção corrente da palavra. Não se trata apenas de não praticar o mal, mas sobretudo de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bom e do Belo.

A calma é parte integrante da Inocência. « Pode-se estar numa situação em que seja quase inevitável a sensibilidade efervescer. Mas a efervescência é reduzida, pelo império da vontade, estritamente a seus primeiros borbulhares”.[4] Além disso, nunca deve passar.

Afirma ele: “Sustento que a partir da Inocência primeira o senso psicológico é mais agudo, e se embota com o tempo. Mas, por outro lado, há uma lucidez infantil que a maturidade pode levar depois à plenitude”.[5]

Embora a Inocência possa existir em todas as idades, é quase impossível falar de Inocência sem falar no menino Plinio. Ele dizia:

“Como é bela a juventude! Tenho saudades da minha Inocência. Daquela candura de alma, daquele frescor! Não quero morrer sem ter readquirido as qualidades de minha infância, de maneira que quando me apresente diante de Nossa Senhora eu possa dizer:

Minha Mãe, minha vida inteira está posta em Vossas Mãos”.[6]

Mas o espírito verdadeiramente inocente não é ingênuo e não se deixa levar pelas aparências. As sirenes de alarme de sua alma são sensíveis, e disparam com acerto e na hora certa. Se alguém tiver verdadeira Inocência, será muito difícil enganá-lo.

Falar sobre Dr. Plinio é quase sempre discorrer sobre contrastes harmônicos. Não é difícil ver, examinando os fatos de sua vida, que sua “intransigência inexorável” como dizia ele se harmonizava com uma Filialidade exímia e muito amorosa, que se aplicava a três pontos de atenção: Nossa Senhora, a Santa Igreja e, como é natural, Dona Lucilia sua mãe.

    Ele tinha exímia Filialidade em primeiro lugar em relação a Nossa Senhora. Falava continuamente e em termos elevadíssimos dEla. Tinha mesmo o propósito de, em todas as conferências e palestras tão frequentes em sua vida, sempre dizer alguma coisa de Maria Santíssima, o que fazia sem falhar nunca.
    Outro aspecto da mesma qualidade era a Filialidade para com à Igreja. Certa vez, devendo fazer graves objeções a alguns dignitários eclesiásticos, ele o fez colocando no início do texto a frase “anima nostra sicut terra sine aqua tibi” (nossa alma está para Vós como a terra árida para a água),[7] uma expressão muito filial, usada na hora da firmeza. E fez a crítica. Na famosa e enérgica Declaração de Resistência, face a afirmações de Mons. Casaroli em relação ao regime comunista cubano, ele escreveu a Paulo VI: “Neste ato filial, dizemos ao Pastor dos Pastores: Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe”. É impossível ser mais filial, na censura inexorável.
    As relações dele com sua extremosa mãe mereceriam um capítulo a parte, tão expressivas eram. Ele descreve Da. Lucilia como “a dignidade sem fortuna, a doçura sem covardia, a intransigência sem hirtez, a nobreza sem arrogância”. Mas mesmo tendo tão extraordinária mãe, nunca se deixou levar por nenhum sentimentalismo, pois conhecia muito bem o caminho de seu dever. E também nisto sempre foi um modelo.

Esses três objetos de sua Filialidade, aqui mencionados Nossa Senhora, a Igreja e sua própria mãe se fundiam em uma única virtude, e tinham como corolário uma notável Paternalidade com os de seu Grupo, especialmente os que mais precisassem de sua proteção.

A Filialidade dirigida a requintados objetos é uma qualidade muito importante, mas da qual pouco se fala.[8] Em se tratando do guerreiro admirável que foi Dr. Plinio, forma o arco de contrastes harmônicos que procuro pôr em foco nessas rápidas linhas. 

Aqui ficam, pois, no dia de seu centésimo quarto aniversário algumas considerações resumidas, mas afetuosas, sobre três das virtudes características suas: a Seriedade, a Inocência e a Filialidade.



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