Blog Resistir Na Fé
Que Nosso
Senhor, cabeça da Igreja, suscite um novo Adriano VI proporcionado aos
problemas de nossos dias. Para edificação e esperança dos leitores, a leitura
do texto abaixo parece realmente oportuna.
Esse texto,
contendo uma alentada citação do Papa Adriano VI, é de Plinio Corrêa de
Oliveira, e o extraímos de seu prefácio ao livro: “A TFP: uma vocação. TFP e famílias. TFP e famílias na
crise espiritual e temporal do século XX”. (http://www.pliniocorreadeoliveira.info/PRE_8602_Papa_AdrianoVI_meaculpa.htm).
Por brevidade,
deixamos de transcrever as notas de rodapé referentes ao prefácio.
A família e a Igreja em crise
A responsabilidade por essa situação desastrosa não
toca apenas ao Estado.
A Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja
de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi discernida por
Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o
mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam por vezes não poucos
dentre os melhores.
João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também
– em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas; e um Prelado
eminente pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal
Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé,
publicou em 1985 seu famoso "Rapporto sulla Fede", no qual se deve
louvar a nobre franqueza com que descreve sintomas altamente expressivos da
crise que lavra como um incêndio no interior da Santa Igreja.
O valor deste autorizado testemunho cresce ainda de
ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de
intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma
linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as
"mass-media" qualificam de reacionários, saudosistas, extremistas da
intolerância etc.
Ora, de onde procede essa dolorosa crise na Igreja?
Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de fora da
Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma pesquisa dos
fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para
além dos muros dEla. Cumpre indagar se também entre os católicos – entre os
leigos bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia –
há propulsores de tal crise.
A pergunta pode surpreender a alguns… dia a dia
menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa,
revolucionária, blasfema.
É explicável que a tais reações conduza a crassa
ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do
século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História da
Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões
doutrinarias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por
demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um documento
memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio
pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em
Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.
Transcreve largos trechos desse documento o
historiador austríaco Ludwig von Pastor em sua obra célebre "Geschichte
der papste" – História dos Papas. A conjuntura em que essa instrução
foi ditada pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século
XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias.
Dessa Instrução destacamos os seguintes tópicos:
"Deves (dirige-se o
Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente
haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos
homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se
encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos
afastam dEle, de modo que não nos ouve as suplicas.
"A Sagrada Escritura
anuncia claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos
sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino
Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em
primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos
sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
"Bem sabemos que,
mesmo nesta Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo, muitas coisas
dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os
preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a
enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos
Prelados.
"Nós todos, Prelados e
Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que
pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em
sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si
mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira.
"Por isto (igualmente) deves
tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a
diligencia a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da
qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim
como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
"Nós nos consideramos
tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja
semelhante reforma.
"Porém não procuramos
nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom
grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado
teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o
perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em
consequência, queremos exerce-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer
nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga
formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos,
e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor
de São Pedro.
"Não obstante, que
ninguém se surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe; pois
as doenças estão profundamente arraigadas e são múltiplas; pelo que é preciso
proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos
mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma
precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda
mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade" .
Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas
nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com
a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de bom grado
o fariam certos católicos de vistas estreitas.
E quantos exemplos concretos haveria que citar em
cada país da Cristandade contemporânea em confirmação desses
ensinamentos de Adriano VI! (...).
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